HISTÓRIA DO CONVENTO DE SÃO BERNARDINO
A presença dos franciscanos na Madeira confunde-se com a descoberta e povoamento da ilha desde 1419/20, por João Gonçalves Zarco.
Os cronistas assinalam que nas primeiras caravelas que aportaram à Madeira, vinham dois franciscanos, tendo estes aspergido o ar e a terra e celebrado a primeira missa em Machico, a 2 de Julho de 1420.
Inicialmente não tinham residência estável.
A fundação do primeiro convento data de 1440, em São João da Ribeira, nos arredores da cidade do Funchal.
Em 1473 fundaram o convento de São Francisco, na cidade, a fim de facilitar o atendimento pastoral da população.
Foi casa de noviciado, centro de estudos filosófico-teológicos e sede da Custódia de São Tiago Menor, estabelecida em 1702, congregando os cinco conventos existentes na Madeira.
Os franciscanos prestavam assistência religiosa nas primeiras capelas erigidas na cidade e arredores, assumindo ainda o cuidado pastoral das primeiras paróquias que foram sendo criadas, a partir de 1430, como Santa Maria Maior, no Funchal, Câmara de Lobos e Ponta do Sol.
O convento de São Bernardino foi fundado em 1459/60, por Fr. Gil de Carvalho em Câmara de Lobos.
Recebeu esta designação sob a influência do movimento da Observância que teve em São Bernardino de Sena, canonizado em 1450, um dos mais notáveis defensores.
Durante vinte anos foi um modesto eremitério habitado por reduzido número de frades.
Depois de um aluvião, foi reconstruído em 1480, por Fr. Jorge de Sousa, passando o convento a albergar cerca de dez frades.
Cinco anos depois chegou à Madeira Fr. Pedro da Guarda, tendo vivido neste convento durante vinte anos, onde serviu em ofícios humildes, nomeadamente como cozinheiro.
Faleceu a 27 de Julho de 1505, com fama de santidade.
Segundo os cronistas da Ordem, era notável no espírito de oração, na penitência, no dom da profecia, na pobreza e humildade e, ainda, no dom de refazer a paz entre os desavindos.
A 28 de Janeiro de 1597 procedeu-se à exumação e transladação das relíquias de Fr. Pedro da Guarda para a igreja conventual, pelo Comissário da Ordem na Madeira, Fr. Ambrósio de Jesus, e pelo Bispo do Funchal, D. Luís Figueiredo de Lemos, acompanhados pelo Reitor dos Jesuítas e outras “pessoas qualificadas”. Dá-se início à veneração pública, com aprovação eclesiástica.
Nesta data foram autenticados 600 milagres, atribuídos ao “Santo Servo de Deus”, para o seu processo de canonização.
Mais tarde, em 1619, procedeu-se à abertura da sepultura de Fr. Pedro, por ordem do Provincial, Fr. Jerónimo da Mãe de Deus, sendo retiradas três relíquias para veneração dos fiéis nos outros conventos franciscanos da ilha.
Em 1620 procedeu-se à instauração de um novo processo de Fr. Pedro.
Seguiram-se outros mais, mas sem uma conclusão favorável, por diversos motivos.
Segundo D. Fr. António Montes, registaram-se onze processos, sendo que apenas dois chegaram a Roma.
Em 1667 procedeu-se à construção da capela erecta sobre a sepultura do Fr. Pedro, recolhendo-se numa arca de pedra as restantes ossadas.
Construção posterior de outras duas capelas: na cozinha e no exterior, ao cimo da escadaria que dá acesso à gruta onde rezava (“capela pública”), sendo a única que subsistiu até à actualidade.
Em 1705, Fr. Fernando da Soledade, na História Seráfica, refere-se à profusão dos milagres, mediante a aplicação de terra da sepultura, qual “terra salutífera e remédio universal para todos os males”.
Afirma ainda que “o povo daquela ilha colocou em todas as igrejas a sua imagem, dando-lhe culto, como o têm os santos canonizados”.
A 9 de Outubro de 1803 registou-se a grande aluvião que destruiu praticamente todas as dependências existentes entre a igreja e o ribeiro.
Perderam-se a cerca, o claustro, a sala De Profundis, o refeitório, a adega e o dormitório, incluindo a Capela do Servo de Deus existente na cozinha.
Depois, procedeu-se à reconstrução do convento, a montante da igreja, conferindo-lhe o aspecto actual. Após a extinção das Ordens Religiosas, no ano seguinte, a 2 de Junho de 1835, o Cón. António Alfredo Braga, Vigário Capitular do Bispado do Funchal, afecto à Maçonaria, mandou destruir, na sua presença, todos os sinais de culto do Servo de Deus – as suas imagens e relíquias – com o pretexto de extinguir a superstição e cumprir as disposições canónicas.
Enviou ainda uma carta circular a todos os párocos, pedindo que a mesma fosse lida durante oito domingos consecutivos, tendo ameaçado, ainda, de suspensão a divinis todo e qualquer pároco que, de alguma forma, fomentasse o culto a Fr. Pedro da Guarda.
A 6 de Julho de 1898, Manuel Joaquim Lopes, devoto do Servo de Deus – que comprara ao Estado o edifício conventual em 1872, abrindo as portas aos peregrinos – vende-o, por um valor simbólico, à Diocese do Funchal, na pessoa de D. Manuel Agostinho Barreto.
No dia 12 de Outubro de 1916 entrou em São Bernardino a Ir. Mary Wilson de S. Francisco, fundadora das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora das Vitórias, com o intuito de fundar o pré-seminário, a pedido de D. António Pereira Ribeiro.
Faleceu no convento, com fama de santidade, a 18 de Outubro de 1916.
Em 1926 procedeu-se à bênção da igreja conventual.
As obras de restauro foram orientadas pelo Pe. João Joaquim de Carvalho de 1924 a 1928.
São Bernardino foi a casa mãe da Congregação até 1928, ano da aquisição da Quinta das Rosas.
O Seminário encerrou em 1931, tendo as Irmãs Vitorianas permanecido em São Bernardino, orientando uma escola até 1958. Por fim, em 1961, por decreto de D. David de Sousa, Bispo do Funchal, o antigo Convento de São Bernardino constitui-se em sede da nova paróquia de Santa Cecília.
Nos finais do século XX, o convento deixou de funcionar como sede da paróquia, com a construção da nova igreja paroquial, cujas instalações definitivas foram inauguradas em 2011.
Desde essa altura acentuou-se a degradação e o (quase) abandono do convento.
Após a mobilização da Diocese do Funchal e da Ordem Franciscana e com o apoio decisivo da União Europeia, do Governo Regional e do Município de Câmara de Lobos realizaram-se as obras de restauro e requalificação, inauguradas no dia 3 Março de 2015.
São Bernardino é considerado o primeiro santuário de dimensão regional, ali acorrendo os peregrinos e romeiros de toda a ilha e até do continente.
Tal como no Monte e em Ponta Delgada preserva a cozinha e a casa dos romeiros.
Tendo ali funcionado uma escola e a sede da paróquia, muitas gerações de madeirenses mantêm laços de profunda afinidade espiritual com este convento franciscano em boa hora restaurado.
O restauro integral do Convento de São Bernardino permitiu o regresso da comunidade franciscana, a abertura ao público de um valioso património de interesse histórico e espiritual, projectando-se, em futuro próximo, a instalação de um núcleo museológico da História Franciscana na Madeira e a reactivação da Causa de Canonização do denominado “Santo Servo de Deus”, Fr. Pedro da Guarda.
Fr. Nélio Mendonça, ofm.
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